terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

O Leitor do Trem das 6h27, de Jean-Paul Didierlaurent - LUGAR e HORA certa para a Leitura


Olá, caro leitor(a).

Acho que essa ideia de criar e manter um blog literário ainda vai acabar "empacando", mas enquanto houver tempo pra ler, resenhar, anotar e postar. Vamos que vamos.

O livro de hoje é "O leitor do trem das 6h27", isso mesmo, não é "da casa", "da biblioteca", nem "das 20h30" ou "12h00", é "O leitor do trem das 6h27, de Jean-Paul Didierlaurent".
Fonte: Icebookcream - A sorveteria literária.

Título (BRA): O leitor do trem das 6h27.
Título (Original): Le liseur du 6h27.
País de Produção: 
Autor: Jean-Paul Didierlaurent.
ISBN: 978-85-8057-791-4.
Dimensão: 12cm x 17cm
Páginas: 175 p.
Class. CDD: 823 - Literatura francesa.
Cutter: D556l.
Referência: DIDIERLAURENT, Jean-Paul. O leitor do trem das 6h27. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2015. (broch.)

Lido em: 5 dias.
Nota: 9/10
Acompanhe o primeiro capítulo disponibilizado pela Intrínseca aqui



É perceptível na história o uso da metalinguística, acompanhada de um pouco de suspense, drama e romance; sem contar nas pequenas aventuras e tragédias que ocorrem no enredo com Guylan e Giuseppe. Confesso que, aparentemente, o livro me deu a impressão de conte rum leitura chata e sonolenta, ao contrário, desperta não só a vontade de ler mais páginas da história como também o desejo por um segundo volume.

É nítido a exposição dos assuntos, como leitura, livros, edição, versos alexandrinos, clássicos, tialogismo da Tia da zeladora do banheiro, e até mesmo a evolução, nítida, do texto impresso para o digital.

Fazendo uma pequena sinopse da história...

Guylain Vignolles é um simples operário em uma fábrica de reciclagem. Ele trabalha no setor responsável pela degradação de papel (principal os livros que vão para a reciclagem). Na fábrica trabalham, também, Yvon Grirnbert, o porteiro que ama devorar seu exemplar, mais que antigo e gastado, de “O Cid”, de 1936 do Britânico Pierre Corneille.

Tinha também, Kowalski, o chefe irritado e irritante, que adorava mandar e vigiar os funcionários, além de Brunner, o funcionário mais chato e que tinha uma vontade enorme de manusear a destruidora Zerstor 500.
“[...] um mundo onde os livros tinham direito de terminar a vida confortavelmente arrumados em caixas verdes ao longo dos parapeitos das margens, envelhecendo no ritmo do grande rio e sob a proteção das torres de Notre-Dame.” (p. 60)
Ah, sim! Zerstor 500, que não tá na lista de personagens é o nome da máquina utiliza no processo de degradação dos livros na fábrica, também conhecida como a assassina do conhecimento, devoradora de histórias, a praga da anti-curiosidade humana. Ela ficava sob responsabilidade de Guylain, que acreditava que a máquina tinha vida própria, devido alguns incidentes que já haviam ocorrido na fábrica e ninguém tinha a explicação para os ocorridos.
Um verbo alexandrino é direto como uma espada – explicara um dia Yvon -, nasceu para acertar o alvo, com a condição de honrá-lo. Não deve ser declarado como prosa vulgar. Recita-se de pé. É preciso alongar a coluna de ar para dar vida às palavras e debulha-lo de suas sílabas com paixão e ardor, declama-lo como se faz amor, com grandes golpes de hemistíquios, no ritmo da cesura. O verso alexandrino lhe apresenta seu ator. E não há lugar para improviso. Não se pode trapacear com um verso de doze silabas, menino. (Yvon Grimbert, p. 37)
Guylain era o típico homem de quase meia-idade, que tinha um emprego qualquer, que garantia seus gastos e para sua subsistência, mas odiava seu emprego, o que exatamente fazia. Como amante dos livros e da leitura que é, Guylain se sente torturado ao ter que presenciar tamanha atrocidade.
Segunda-feira. Ele não vira o domingo passar. Levantou-se muito tarde, deitou-se muito cedo. Um dia sem. Sem vontade, sem fome, sem sede, sem nem sequer uma lembrança. (p. 69)
Sempre que podia, salvava algumas páginas que insistiam em não se deixar destroçar pela Zerstor 500. Eras essas páginas o enredo das leituras de Guylain no trem na ida para o trabalho. Essas páginas que eram resgatadas do abismo e restauradas, tratadas e lidas, não importando quais páginas fossem, de que livro ou história, se era o inicio, o fim ou o meio. Eram lidas, declamadas como nunca (que eu interpretei como sendo uma forma de Guylain honrar o assassinato que era obrigado a fazer).
“Não desatar o fio do Verbo, menino! Chegar ao fim, deslizar ao longo da tirada até que finalmente o ponto final o liberte!” (Yvon Grimbert, p.35)
Foi por meio dessas leituras que Guylain conhece Monique e Josette, duas senhorazinhas que o convidam para ler suas páginas para elas aos sábados de manhã. Receoso ele aceita e mais pra frente acaba gostando da atividade e repetindo vários outros sábados a visita, passando a ser acompanhado por Yvon, que agora ganha público para seus versos alexandrinos.

Termino nesse parágrafo a resenha, pois a partir desse momento a história encontra sua aventura romântica e daqui ruma para o desfecho, no instante que em uma das voltas para casa, Guylain encontra no banquinho de sempre do trem um pen drive. E no pen drive, encontra diversos textos (diria que pequenas crônicas) de uma autora anônima. Que desperta em Guylain, assim como em nós leitores, a curiosidade e a paixão por tão belas histórias escritas, linguagem bem empregada, semântica e sintaxe bailando em perfeita harmonia.

E assim, Guylain parte na busca da jovem Julie, o proposito que Guy encontrou para sua vida. Assim, qual o seu proposito pra está vida?

E como não pode faltar, vamos para o "Além do enredo", com Versos Alexandrinos, Tialogismo - Aforismo e mais um livro apresentando a função Metalinguística, o livro apresenta outra obra da literatura em forma de livro, mas na verdade é uma peça teatral: "O Cid, de Corneille (Le Cid)".


PERSONAGENS


Guylain Vignolles

[...] entrara na vida tendo como fardo o infeliz trocadilho proporcionado pela junção de seu nome com seu sobrenome: Vilain Guignol, algo como ‘palhaço feio’, um jogo de palavras ruim que ecoara em seus ouvidos desde seus primeiros passos na existência para nunca mais abandoná-lo. p. 7
Em trinta anos de existência, acabara aprendendo a se fazer esquecível, a se tornar invisível para não provocar mais gargalhadas e zombarias do que as que sempre se manifestam tão logo era notado. Não é nem bonito nem feio, nem gordo nem magro. Só o vislumbre de uma vaga silhueta nas margens do campo de visão. Fundia-se à paisagem até renegar a si mesmo para permanecer em outro jamais visitado. p. 8

Giuseppe


Infelizmente sem informações pra extrair do livro.


Yvon Grimbert

Aos cinquenta e nove anos, o teatro clássico era o único amor verdadeiro de sua vida, [...] p. 17 
Sempre aprumado, o vigia caprichava com um zelo todo especial no cultivo do bigode, um traço fino que enfeitava seu lábio superior, sem jamais perder a oportunidade de citar o grande Cyrano: ‘Sim, todas as palavras são finas quando o bigode é fino’. p. 17-18

Brunner

O jovem de macacão sempre impecável estava apoiado displicentemente no painel de controle da Coisa. Com os braços cruzados junto ao corpo, ele recebeu Guylain como sempre: um sorriso estranho mal esboçado nos lábios. Nunca uma palavra de boas-vindas, um gesto, nada, só esse sorriso cheio de arrogância que ele lhe dava do alto de seus vinte e cinco anos e de seu um metro e oitenta e cinco. Brunner passava o tempo disparando suas verdades a quem quisesse ouvi-las. p. 21-22
Félix Kowalski
[...] via tudo, como um pequeno deus na escuta de seu reino. O menor alerta, o mais ínfimo deslize, e eis que ele surgia na ponte suspensa, gritando suas ordens ou fazendo chover reprimendas. p. 24 
[...] não falava. Latia, gritava, berrava, xingava, rugia, mas nunca soube conversar normalmente. p. 24
Monique & Josette
[...] duas fãs octogenárias que o reivindicavam só pra elas. p. 72  
Essas duas velhinhas eram comoventes, cada uma delas embrulhada em seu casaco bege e as duas escutando-o com uma atenção apaixonada. p. 73  
O cartão informava nome e endereço em meio a um canteiro de flores em tons pastel. Senhoritas Monique e Josette Delacôte. 7 bis, beco de la Butte, 93220, Gagny. p. 7


Sobre o autor:

Jean-Paul Didierlaurent mora em Vosges, na França. Seus contos ganharam duas vezes o Prêmio Hemingway. O leitor do trem das 6h27 é seu primeiro romance, cujo direito de publicação foi adquirido em 25 países.
Fonte: próprio livro.

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